domingo, 23 de janeiro de 2011

A Culpa é de Quem? (Sobre as Tragédias)

Quando da tragédia que assolou Lisboa em 1755, os pensadores Voltaire e Rousseau travaram uma discussão em torno do que gosto de definir como “de quem é a culpa?”, ou seja, para Voltaire segundo seu poema sobre o desastre de Lisboa, mesmo que não explicitamente, a culpa seria de Deus, pois Ele sendo um ser benevolente e onipotente, não deveria permitir tal acontecimento a humanidade. Já para Rousseau a culpa não é de Deus, visto que são os homens que se amontoam em um espaço reduzido propensos a esse tipo de fato.

Uma discussão dessas me parece sem fim, mas queria atentar para outra observação importante de Voltaire em seu texto. Ele parece não aceitar que Deus é ao mesmo tempo benevolente e onipotente, pois se Ele permite tal flagelo, não é benevolente, ou se realmente o for, então não será onipotente, pois não é capaz de impedí-lo.
Venho, com esta observação, não defender o ateísmo, mesmo como ateu que sou, mas para demonstrar minha revolta com essa estagnação do pensamento. Por exemplo: ao ver o noticiário, onde apresentam um mundo de tragédias sem fim, ou, um sem fim de tragédias no mundo, em especial nos últimos dias com as enchentes no Brasil, por várias vezes assisto, diferentes pessoas, vítimas, se colocando como meros fantoches, ao declarem, quando do recebimento de uma ajuda – seja por parte do governo, de filantropos, de voluntários, de vizinhos – muito satisfeitos, agradecendo a Deus pela ajuda bem vinda, mas mesmo que sem esquecerem de tudo que os aconteceu, aparentemente aceitam tal situação como sendo algo da natureza, do desejo divino, sem a menor contestação. Essa aceitação das regras divinas nos remetem a uma mesma aceitação do jogo dos homens, dos termos definidos pela elite dominante, pelo governo hipócrita, pelos discursos alienantes – políticos ou teológicos.

A mesma pergunta que podemos fazer a um Deus que segundo consta é benevolente e onipotente, mas aparece-nos como indiferente esses tristes acontecimentos: “que Deus é esse?”; podemos fazer a nossos representantes, as “vozes do povo”, que não tomam providências para evitar esse infortúnios: “que governo é esse?”. Como já enfatizei muitas vezes em textos anteriores, para mim essas providências devem partir da educação, pois se os homens que construíram casas de 6 andares a beira mar em Lisboa no século XVIII tivessem uma educação coerente (sem entrar desta vez no mérito de o que é educação coerente), eles com certeza, não teriam as feito, pois estariam cientes das possibilidades e dos danos causados a natureza e em contra-partida ao próprio homem. É claro que possivelmente, para o homem do século XVIII, tais conhecimentos ainda precisavam ser desenvolvidos, mas para a realidade presente vejo possível. Entendo que só a ganancia desmedida, a ocupação sem nenhuma preocupação – com o natural, com o ambiente e com o habitat – é tão responsável pelas tragédia quanto o próprio Deus.

Portanto, a margem de Deus, somos seres capazes e devemos lutar por nossa integridade – seja física, seja mental – e essa luta deve partir de uma cobrança de nos mesmo e de nossos representantes, começando pela mudança do pensamos comum para pensamento crítico, o que resultará na evidenciação de necessárias ações civis a serem tomadas para evitar novos erros que se tornaram corriqueiros e até certo ponto são tolerádos em nossa sociedade.


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