segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Terceiro Setor Contra a Escola Capitalista


Resolvi, desta vez, escrever um texto menos filosófico e mais prático. Não que a prática não faça parte da filosofia, ao contrário; é só vermos, por exemplo, a corrente do Pragmatismo ou mesmo o sentido filosófico de Práxis. Fui impulsionado pela leitura de alguns artigos recentemente estudados sobre as possibilidades do terceiro setor e sobre as impossibilidades de uma educação libertária em uma sociedade capitalista.
Vou tentar explicar simplificadamente a incoerência que, no meu entendimento, se apresenta ao estudarmos as duas afirmações acima citadas.

Começarei pela idéia de que em uma sociedade capitalista a educação libertária nunca acontecerá. Muitos teóricos comunistas, em especial Gramsci, utilizando, é claro, os trabalhos de Marx, evocando sua correta concepção de Ideologia, nos dizem que a escola enquanto um aparelho ideológico do Estado nunca desenvolverá trabalhos que irão contra seus interesses. Para ser mais claro, isso quer dizer que num país capitalista a escola é  claramente utilizada visando dois objetivos: primeiramente para o desenvolvimento de mão-de-obra para as necessidades do mercado de trabalho e em seguida para disseminação de conteúdo de alienação em favor da perpetuação da ideologia dominante. Para a maioria dos marxistas seria preciso que primeiro houvesse uma mudança de estrutura econômica e política para o comunismo que em seguida aconteceria à reformulação na pedagogia utilizada nas escolas.

Vejo estas conclusões por dois lados, o lado correto ao mostrar a realidade de nossas escolas e o lado oportunista e contraditório dos comunistas. Contra os comunistas pesa a já consagrada sede pela revolução, ou seja, ao mostrarem as impossibilidades pedagógicas nas escolas capitalistas eles mais uma vez defendem a imediata revolução; e aí me parece morar o oportunismo.  Outro ponto está na contradição, onde não fica claro que ao mudarmos a forma de governo a educação tornar-se-á libertaria por conseqüência; para mim é exatamente o contrário, a mudança da ditadura burguesa para ditadura do proletariado somente resultará em novos donos do poder ideológico, onde a verdadeira libertação também não acontecerá.
O lado correto está na evidenciação de que enquanto a escola estiver sobre o domínio do Estado, a meu ver independentemente da forma de governo, ela sempre será usada como aparelho ideológico.

A partir desta relação, pensando na posição do terceiro setor em nossa sociedade, aonde muitas das obrigações do governo vem sendo passadas para a iniciativa de ONGs (Organizações Não Governamentais), tais como, saúde, disseminação cultural, inclusão social e até mesmo educação; vemos uma oportunidade. As ONGs enquanto mantiverem suas finalidades publicas e sem fins lucrativos, geralmente, mobilizando a opinião pública e o apoio da população para modificar determinados aspectos da sociedade, são uma esperança para a alteração da estrutura pedagógica tradicional para as teorias libertárias; visto que estas organizações podem complementar o trabalho do Estado, realizando ações onde ele não consegue chegar.

Mesmo que em uma estrutura como a de nosso país, onde fica difícil imaginarmos toda a educação desenvolvida pelo terceiro setor, vemos que a refutação da idéia comunista é pertinente. Pois, se o principal argumento em defesa da revolução primeira é que a escola é um aparelho ideológico do Estado, percebe-se que se a educação não está mais nas mãos do Estado existe a possibilidade de mudança mesmo numa sociedade capitalista.

Este argumento vem em defesa de algumas teorias anarquistas, onde a revolução, ao contrario do comunismo, acontece de baixo para cima, ou seja, mudando primeiramente a consciência geral da população, desalienando, evocando a dialética e não a figura do rei filósofo platônico, conforme as idéias comunistas, onde quem tem a sabedoria exerceria a revolução tornando a população em geral apenas máquina de manobra.

Na concepção que defendo, a mudança começa pelo povo, não pelo Estado, pela educação, não pela revolução. É claro que dirão que mesmo as ONGs, como se apresentam hoje em dia, ainda assim podem vir a ser máquinas de alienação, mas não há como refutar o argumento de que elas podem tornar-se um meio viável de mudança, e de mudança pelo desenvolvimento do pensamento crítico por meio da educação libertária a margem da ideologia dominante e do Estado, com a sociedade civil tomando as rédeas de seu próprio futuro.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Assim é a vida do homem vista de fora – Por que Sustentabilidade?

Russell escreveu antes de mim um texto com o qual eu usaria para questionar essa nova (quase velha) onda chamada Sustentabilidade.
Com os mesmo argumentos, visando apresentar a pequenez humana, discursaria sobre qual o sentido de podarmos alguns de nossos desejos em prol de uma, duas ou dez gerações a mais de nossa sociedade; visto que mesmo com a utilização de um sem número de artinhas, um dia nosso fim inevitavelmente chegará.
Fiquem com o sempre bem escrito texto de Russell.

“Os sonhos de um homem ou de um grupo podem ser cômicos, mas os sonhos humanos coletivos, para nós que não podemos ultrapassar o círculo da humanidade, são patéticos. O universo é muito vasto, como revela a astronomia. Não podemos dizer o que existe além do que os telescópios mostram. Mas sabemos que é de uma imensidão inimaginável. No mundo visível, a Via Láctea é um fragmento minúsculo; e, nesse fragmento, o sistema solar é uma partícula infinitesimal, e, dessa partícula, nosso planeta é um ponto microscópico. Nesse ponto, pequenas massas impuras de carbono e água, de estrutura complexa, com algumas raras propriedades físicas e químicas, arrastam-se por alguns anos, até serem dissolvidas outra vez nos elementos de que são compostas. Elas dividem seu tempo entre o trabalho designado para adiar o momento de sua dissolução e a luta frenética para acelerar o de outras do mesmo tipo. As convulsões naturais destroem periodicamente milhares ou milhões delas, e a doença devasta, de modo prematuro, mais algumas. Esses eventos são considerados infortúnios; mas quando os homens obtêm êxito ao impor semelhante destruição por seus próprios esforços, regozijam-se e agradecem a Deus. Na vida do sistema solar, o período no qual a existência do homem terá sido fisicamente possível é uma porção minúscula do todo; mas existe alguma razão para esperar que mesmo antes desse período terminar o homem tenha posto fim à sua existência por seus próprios meios de aniquilação mútua. Assim é a vida do homem vista de fora.”

Nosso pensador usou este texto, que é parte integrante do livro “Ensaios Céticos”,  uma coletânea de ensaios, a maioria dos quais escritos nos anos 20, sobre os mais diversos assuntos e que continuam como polêmicas de nosso tempo, para defender sua posição contra a insanidade humana ao usar mitos para basear suas condutas.
Por mais diferentes que sejam nossos enfoques, temos algo em comum, a defesa do ceticismo. Quero deixar claro que mesmo que eu tenha alguma dúvida quanto ao nível de influência humana nos acontecimentos da natureza que vem sendo relatados pela mídia especializada ou não, ainda assim meu ceticismo estaria na pergunta, “por que sustentabilidade?” e não na afirmação – que aparentemente está errada – de que o homem pouco influi nesses acontecimentos.
Conforme o próprio Russell nos diz, para resolver o problema que nos é apresentado ao vermos o homem de fora, a humanidade apelou para a religião e a filosofia.
Para seguir a filosofia ceticista descartemos a religião em nossas exposições, abdicando no mito. Tomemos então a filosofia como base. Ela pelos mais diversos meios, seja, de forma humanista, materialista ou idealista, entre outras, responderá mais ou menos satisfatoriamente, evocando a necessidade de perpetuação da raça humana e a dignificação da vida; mas queira ou não, sempre baseada em crenças. Aí mora o grande problema, ao basear-se em crenças, normalmente o homem acaba cedendo ao imediatismo de sua vida cotidiana.
Hoje me parece que a sustentabilidade se insere neste imediatismo nas necessidades capitalista de demonstração da responsabilidade social e ambiental tanto do primeiro, segundo e terceiro setores da economia. As inclinações realmente filosóficas são deixadas em segundo plano, ou seja, os homens acabam guiados por suas necessidades imediatas e não no pensamento de uma sociedade a longo prazo, o que daria o sentido ético a questão.
Não quero aqui condenar a sustentabilidade, mesmo que ache que a tomada total e sem discussão de suas práticas, como é feito ultimamente, podem tornar em alguns casos a vida do homem mais triste, algo que é indesejável; mas quero sim, atentar para a utilização em massa de um conceito filosófico em prol de ganhos, não de ganhos a humanidade como um todo, mas a economia capitalista, economia que somente sede aos meios sustentáveis até onde vai seu interesse.

O Sistema de Copérnico - Quando a Terra perdeu a posição central, girando em torno do Sol, também o homem foi deposto de sua eminência.
Referências:
RUSSELL, Bertrand. Ensaios Céticos,  Pág. 32-33, Tradução de Marisa Motta. Porto Alegre, LP&M, 2010

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Recompensas e Punições - Analisando Um Erro de Russell

“Nosso ato provém diretamente do desejo de atingir um determinado fim, não menos que do conhecimento dos meios necessários para tanto. Isso se aplica igualmente a todos os atos, sejam eles bons ou maus. Os fins diferem, e o conhecimento é mais adequando em alguns casos do que noutros. Entretanto, não há maneira concebível de levar as pessoas a fazerem coisas que não desejam. Possível é modificar seus desejos por meio de um sistema de recompensas e punições, entre as quais a aprovação e desaprovação social não sejam menos poderosas." (pg 53)

RUSSELL, Bertrand. No que acredito. L&M Pocket, Porto Alegre, RS: 2010.
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Transpondo esse ideal sistemático de recompensas e punições, para modificar nossos desejos, citado por Russell, ao sistema educacional, encontramos sua manifestação na escola tradicional do início do século XX, embasada pela nova ciência psicológica behaviorista (comportamento). Ou seja, o aluno recebia estímulos para realizar uma tarefa e ganhava recompensas se a executasse. Se houvesse erro, desobediência, ou qualquer ato inadequado, o aluno era punido até mudar sua conduta e não cometer o mesmo erro novamente. Daí que surge o massivo método de repetição usado até hoje, para fixação de condutas adequadas, de aprendizagem conteúdista. Essa questão nos remete ao condicionamento humano, (ver Skinner), por exemplo, o cachorro saliva quando está com fome, é dado um choque no animal, ele saliva e fica com fome. Ou seja, um comportamento gera uma resposta que gera uma conseqüência.  O estímulo não corresponde ao fim, seus desejos são condicionados. Outro grande exemplo vem da literatura, na obra “Laranja Mecânica” de Anthony Burgess (1962), em que o protagonista Alex, depois de tanto cometer atos maldosos, foi condicionado a não cometê-los novamente, toda vez que pensava em agredir, sentia-se enjoado e não realizava seus atos. Segundo Russell, é possível modificar os desejos através de um sistema de recompensas e punições. Carl Rogers faz uma crítica ao modelo psicológico de Skinner, para ele Skinner “privilegia conceitos como controle e previsibilidade, e dá pouco valor a conceitos como liberdade e realização pessoal. A abordagem de Rogers considera o modelo de educação e controle de comportamento de Skinner excessivamente mecanicista e determinista.”


Giorgia de Oliveira Moreira
@giorgiadoors
giorgiamoreira@hotmail.com

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Tempos Modernos


Existe um grande movimento, encabeçado por nossa presidente da república, em favor da educação no país. No seu primeiro pronunciamento em rede nacional após a posse, a substituta de “nosso salvador” elegeu exatamente essa temática para discutir, apresentando suas propostas, e claro, sem esquecer-se de mencionar sua legítima luta contra a miséria.

Com seu plano, o qual foca em escolas técnicas, com abertura de novas instituições e financiamento de estudo ao molde das bolsas do ProUni, vê-se claramente uma retomada da já ultrapassada educação tecnicista, a qual vigorou no Brasil em especial nas décadas da ditadura.
Há diversas explicações, diga-se de passagem, muito claras, a respeito dessa preocupação, tais como, a extrema necessidade de mão-de-obra por parte do mercado de trabalho nacional; as centenas de milhares (milhões) de cidadãos disponíveis para ingressarem neste mercado, com o intuito de obterem rendimentos maiores, mas que antes precisam qualificar-se; a degradação, apontada há anos, em nossas escolas públicas; e por conseqüência disso, o desnível entre estudantes formados em escolas públicas e escolas privadas. Poderíamos continuar a lista, mas nos limitaremos as estes fatores.

Torna-se claro que se estes planos funcionarem, o ganho econômico e social será de grande valia à nossa população, ou seja, a medida que desenvolvo a educação de grande parte de uma nação, estarei atendendo as demandas do mercado de trabalho, e atendendo meu próprio povo. Resultado: desenvolvimento econômico; ganho no PIB; aumento do nível de renda; aumento do grau de escolaridade média; possível erradicação, muito bem vinda e tão almejada, da miséria; entre outros desdobramentos decorrentes destes.

Sem querer ser pessimista, mas atentando para as possibilidades, sabemos que este crescimento, ou melhor, desenvolvimento das infra-instruturas de nosso país, o qual é bastante necessário, não vai durar para sempre. Desta forma, o consumismo pregado em nossa sociedade, que só tende a crescer com o ganho educacional e de capital, não sustentará nossa economia. Digo isso observando as causas da ultima grande crise mundial, mas como mera especulação. Possivelmente este tema será objeto de uma postagem neste blog daqui há alguns anos.
Mantendo a perspectiva que alguns chamarão de pessimista, é importante lembrar que numa economia capitalista o preço é regulado pela oferta e demanda, portanto é provável que profissões que hoje pagam bem devido a falta de profissionais, daqui a alguns anos com o aumento da oferta destes no mercado de trabalho, o valor do salário tenda a cair.

Por fim cheguei a meu dilema: citando o romancista, dramaturgo e talvez mais importante filósofo do século XX, Jean-Paul Sartre "me posiciono do lado daqueles que querem mudar tanto a condição social do homem quanto a concepção que ele tem de si mesmo”(1946). O quero dizer com isso? Utilizando o ideário pedagógico dialético do pensador brasileiro Demerval Saviani (1986) gostaria de demonstrar que a escola não é lugar de criação de meras máquinas para o mercado de trabalho. A educação que deveria ser o instrumento para as escolhas do homem livre, democrático, cidadão e autônomo acaba, então se tornando mais uma ferramenta de manipulação e de minimização do pensamento crítico na sociedade. Ela legitima as diferenças sociais e marginaliza, ao invés de tencionar a luta contra a ideologia das classes dominantes, e dos direitos dos seres humanos: o conhecimento, que deve ser universal e possibilitado a todos.

Com essa análise, a crítica à escola tecnicista me parece simples e viável, pois conforme nosso teórico, o que devemos visar na relação entre a educação e a sociedade é a responsabilidade dos professores em transformar, não o mundo, mas sim cada indivíduo que assiste sua aula,  ajudando-o a compreender melhor os acontecimentos como um todo, assim como seu papel dentro do sistema, seus deveres e seus direitos. Somente desta forma é que construiremos o já anunciado, e a meu ver de modo equivocado, “país melhor”.