terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Anarcopedagogia – Princípios


Há oito anos venho dedicando meus estudos á educação e história, e nesses últimos anos mais precisamente á educação e filosofia. Quando iniciei minhas primeiras reflexões a cerca do processo educacional e social em que a educação e escola estão envolvidos, vi ali uma profunda significação para meus ideias anarquistas que vinha formulando na época. Na verdade, eram pensamentos muito mais ligados a Marx e ao socialismo, no qual dediquei meus estudos mais aprofundados.
Hoje, no último ano do curso de Pedagogia, declaro estar completamente ciente de minha posição em relação a educação, sociedade e filosofia. Delimito meus princípios religiosos: ateísta; filosóficos: existencialista; social: anarquista. Concepção de homem: um ser inacabado. Princípio pedagógico: revolucionário, radical, crítico-reflexivo.
A Pedagogia é a ciência que estuda a educação, e educação diz respeito a existência humana em toda sua duração e em todos seus aspectos. É o processo pelo qual a sociedade forma seus membros, a sua imagem e a seus interesses. Sendo o homem um ser inacabado, a educação é a busca pela sua completude, pois o homem constitui a si mesmo ao longo de sua existência. É na existência que o homem constrói sua essência e o ser alienado, conforme ideologia de Marx, é um ser privado da busca de sua essência. Educar é desalienar. Aqui geramos o primeiro ponto de ramificação teórica: a relação entre filosofia e pedagogia.
É através da educação que formamos mentes e pensamentos, e o grande palco para esse fenômeno é a escola. Escola é local de produção e reprodução de conhecimento científico, artístico, histórico, filosófico, social e cultural. Segundo Saviani, a escola é o local de transmissão e assimilação dos conhecimentos e saberes produzidos pela humanidade ao longo do seu processo histórico.
Sempre defendi a educação como a principal arma de transformação social. É adquirir uma postura crítica frente aos fenômenos sociais, é pensar a sociedade disposta a mudança, igualitária, justa, é tornar o conhecimento democrático, buscando uma autonomia de pensamento ético capaz de gerar um verdadeiro anarquismo filosófico e social. Eis o segundo aspecto a ser ramificado: como a educação compreende a sociedade?

Demerval Saviani
Paulo Freire
Texto:
Giorgia de Oliveira Moreira
@giorgiadoors

7 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, mas gostaria, antes de acrescentar algo no sentido de enriquecer o objeto do estudo, criticá-lo em apenas um ponto onde que me pareceu faltar explicação.

    Ao definir Pedagogia a autora cita que a educação "É o processo pelo qual a sociedade forma seus membros, a sua imagem e a seus interesses."

    Somente posso concordar com essa visão se for como constatação de um tipo de educação instituída na sociedade atual, mas nunca para defini-la como conceito ontológico de educação. A educação pode, e a meu ver deve, ser usada de outra forma, numa forma inversa a definição apresentada, onde ela será o processo pelo qual os membros de uma sociedade a moldam a sua imagem e seu interesse.

    Aqui vejo necessário definirmos de uma vez por todas o que é a Ideologia para Marx, citada, no texto e em outros postados anteriormente no blog, e que com certeza será reutilizada em textos futuros.
    A Ideologia para Marx é um consciência falsa proveniente da divisão entre o trabalho manual e o intelectual. Nessa divisão, surgiriam os ideólogos ou intelectuais que passariam a operar em favor da dominação ocorrida entre as classes sociais, por meio de idéias capazes de deformar a compreensão sobre o modo como se processam as relações de produção. Neste sentido, a ideologia (enquanto falsa consciência) geraria a inversão ou a camuflagem da realidade, para os ideais ou interesses da classe dominante.

    Somente neste contexto apresentado por Marx é que aceitaria a concepção do processo de educação conforme definido no texto. Mas vejam, ele ocorre nos dias de hoje, mas é mutável. Como escreveu Paulo Freire em sua Pedagogia da Autonomia: “[...] somos serem condicionados, mas não determinados.”

    Vinicius Nesi

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  2. Aproveito para solicitar a autora uma ratificação de meu entendimento:

    Dias atrás discutimos sobre qual a essência do homem, a natureza humana, e conforme apresentado no texto a autora a definiu indiretamente quando escreve: “Concepção de homem: um ser inacabado”. Lendo Paulo Freire vejo que ele nos fala de uma vocação ontológica do homem para o ser mais. Entendo os conceitos se completam e quando a autora nos mostra que a “educação diz respeito a existência humana em toda sua duração e em todos seus aspectos” ou que “Sendo o homem um ser inacabado, a educação é a busca pela sua completude” posso concorda plenamente, se meu entendimento estiver correto, no sentido de que a educação na vida do homem seria um sinônimo de aprendizagem, termo que humildemente acredito ser mais coerente. Vejo sim a aprendizagem como um processo ininterrupto na existência humana e hoje posso afirmar que se existe uma essência do homem ela é o de buscar o ser mais.

    Vinicius Nesi

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Pois bem, cabe então acrescentar mais um aspecto, que gostaria de estar discutindo em textos posteriores. A educação forma indivíduos para a sociedade, a sua imagem e interesse. A educação é um fato social. (Ver Durkheim sobre fato social). A sociedade integra seus membros determinada pelo interesse que a move, reproduzindo-se desta forma. Outro aspecto que gera muita discussão: a educação é contraditória. Daí vem o duplo aspecto do fato social da educação: incorporar os indivíduos ao estado existente ou progresso, necessidade de ruptura da condição vigente.
    Mais aspectos: a nossa sociedade é formada por classes opostas, distintas, servindo ao interesse dominante, talvez esse é o ponto mais forte em relação ao "formar indivíduos a seu interesse". E é justamente este aspecto que tanto me incomoda, sair desta condição de interesse social, o que pretendo expor em textos póstumos, a pedagogia crítica, progressista que quer a superação desta sociedade capitalista.
    Giorgia de Oliveira Moreira

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  5. Tentando enriquecer a discussão sobre a Educação e Aprendizagem.

    Segundo Paulo Freire, que notadamente conecta as duas ações - ensinar e aprender - no sentido de que "ensinar inexiste sem aprender e vice-versa", também coloca que "aprender precede ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante de aprender".

    Apesar de Freire, não demonstrar nestes textos que o aprendizado faz parte de toda existência humana como citado no texto pela autora, mas usando educação, sinto que o termos aprendizagem ou aprendizado devem mais apropriados para esta definição, conforme visto na última citação de Freire.

    Vinicius Nesi

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  6. Descobri que o termo "anarcopedagogia" não tem referência nenhuma, ou seja, você procura no google e aparece esse texto como primeira referência a expressão.
    Pretendo aprofundar e desenvolver mais pesquisas relacionadas a Anarcopedagogia, bem como lhe gerar uma característica e um corpo teórico científico.
    Giorgia de Oliveira Moreira

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  7. Oi Giorgia, novamente parabéns pelas ideias e projetos. Nesta sociedade pragmática e alienada, aqueles que possuem projetos melhores para sociedade são frenquentemente taxados de idealistas e sonhadores. Quando de fato somos apenas pensadores e entendemos que o mundo é feito pelos homens e para os homens, não existem leis naturais que regem nosso comportamento incerto, dialético e político. Grande abraço, foi um prazer participar desse momento da sua vida!

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