Boa noite amor,
Ontem quando me despedi de você e voltei para casa, fiquei pensando em nossa conversa, em nosso acordo, o qual, até certo ponto, pareceu-me forçado. Um acordo em que apresenta-se uma imposição não se torna justo, ele é sim um exercício de autoritarismo, e infelizmente neste caso vindo de minha parte.
Como anarquista, nem mesmo nas relações sociais, ou no caso amorosa, posso admitir este tipo de atitude, se aceitá-la não estarei sendo ético nem comigo, nem contigo.
Fiquei um bom tempo refletindo sobre o assunto sem conseguir chegar a uma conclusão que satisfizesse meu desejo de ter um pouco de paz de espírito e de ao mesmo tempo ser fiel a meus ideais.
A noite peguei o livro que estou lendo e logo na primeira página a resposta veio a tona, não para minha angústia, mas dizendo o por que dessa situação.
Pode parecer estranho mas as vezes pensamos que o estudo da filosofia só se apresenta na prática, ou como Práxis, no âmbito de filosofias políticas e sociais, mas ela é tão ou mais importante para nossas relações sociais, nosso dia-a-dia, e baseando-se nela pude entender melhor esse envolvimento, em especial no dilema que hoje tenho contigo.
Lembrando que nosso acordo diz respeito a limitação de nossa liberdade em favor de uma aparente relação mais tranquila, seja para mim seja para você, ao ler o trecho no livro onde o filosofo, dramaturgo e romancista francês Jean-Paul Sartre, velho conhecido nosso, expõem suas constatações sobre a liberdade e ou outrem, tive a visão da discussão que se impôs entre nós e a prova da inevitabilidade de tal tensão.
Essa relação de tensão existencial entre o eu e outrem, no caso entre nós, segundo Sartre é até onde pode ir a liberdade, visto que “o único limite com o qual pode se deparar a liberdade vem da relação com outrem”. Como pode ver, isso é algo inevitável em qualquer relacionamento, portanto não é exclusividade nossa.
Mas há, como podemos sentir em nosso coração, o lado podre desse estudo. Ao avançar no assunto Sartre por fim chega a triste conclusão: “Como só há escolha fenomênica e liberdade absoluta, não pode haver amor absoluto.”
Essa constatação apresentou-se para mim como o fim de um sonho, no entanto, um que já estava programado para expirar. Mas ainda há uma saída, e o filosofo, com uma aparente, mas só aparente, contradição, mostrou-me a resposta para minha angústia.
A resposta se evidencia quando nossa livre existência é retomada e desejada por uma liberdade absoluta que ela ao mesmo tempo condiciona e que nós mesmos desejamos livremente. Ou seja, “o fundo da alegria do amor, quando ela existe, é sentirmo-nos justificados por existir.”
Para nossa relação seria aceitar um acordo ou uma limitação da liberdade, mas não para satisfazer o outro, e sim para satisfazer nós mesmos.
Fica a pergunta: Isso é possível para nós?
Com carinho.
Realmente um texto digno de um filósofo que hoje posso dizer que também ama.
ResponderExcluirJá havia pensado nessas mesmas questões enquanto viajava de volta para o lungar onde a minha condição de liberdade estava limitada.
E eu sinceramente não estava gostando nada disso, estava me sentindo uma adolescente com seu primeiro namorado de 15 anos.
Parece-me uma condição absurda e não coerente com o nosso pensamento e nossas ideologias.
A última frase do texto diz tudo: aceitar uma condição que será ideal para nós, para cada pessoa em si, pois o que eu faço ou que outra pessoa deve fazer é o ideal dela mesma, de acordo com os seus valores éticos.
Até que ponto as nossas atitudes interferem na vida de outra pessoa?
Se gosto de uma pessoa, porque não posso ficar momentos ao lado dela?
Porque devo afastar-me de situações em que gostaria de viver pelo fato de pertencer a outra pessoa? Porque existe esse fato de pertencer nas relações amorosas? (Talves algumas questões psicológicas possam responder)
O que é mais importante, lealdade ou fidelidade?
Fidelidade me parece um tanto quanto hipócrita. Sim, sou capaz de perdoar uma traição, pois traição para mim é hipocrisia.
Mas agora um ato de deslealdade nunca perdoaria. Ser desleal não é dignmo de pessoas que se amam e se gostam.
Aceitando a condição de anarquista, cada pessoa sabe o que faz, o que é melhor para si e para o companheiro que está ao lado.
Mas me responda uma coisa.
ResponderExcluirOnde não há deslealdade na traição?
Segundo o dicionário online Priberam da Língua Portuguesa entende-se por "deslealdade":
deslealdade
s. f.
1. Falta de lealdade.
2. Traição; perfídia.
Vejo a palavra "traição" em sua descrição, portanto pode-se dizer que são sinônimos.
Sartre apresenta a seguinte frase para caracterizar uma situação de amor: "Só posso ser amado ao me fazer objeto e, fascinando o outro, ao reduzir sua liberdade."
Dessa frase consigo extrair a seguinte conclusão partindo do contexto original. Se quando amo não sou mais totalmente livre e aceito, conforme descrito na postagem do blog, que o melhor para mim é acatar a limitação que meu objeto de fascínio me impõem, somente desta forma chegarei ao amor absoluto, um amor e uma liberdade que está condicionada aos termos dessa relação.
Mas pensando bem a traição (ou deslealdade) pode ser aceitável em uma relação, mas só nos casos em que o outro permita tal desvio de conduta. No entanto, paradoxalmente, a verdade é que desta forma esse tipo de atitude não é mais um desvio de conduta e por consequencia deixa de ser traição.
Analogamente a esse conceito de traição, entendo que em uma relação amorosa onde a traição não é bem vinda e mesmo assim ela ainda acontece, também o amor não existe mais, pois minha liberdade não está mais sendo condicionada a minha relação com o outro e sim a meus puros desejos.
Para retomar o tema do anarquismo, uma outra analogia se aplica, esta diz respeito a relação de limitação de nossa liberdade dentro de uma relação. Conforme já discutido em outro blog (http://leticiaramoss.blogspot.com/2011/01/poema-um-camarada-da-vanguarda.html) e mesmo nesse ("Ensinar exige liberdade e autoridade" http://t.co/ll7Ker9), a relação entre liberdade e aceitação das regras do amor é evidenciada no anarquismo entre a tensão existente na insolúvel ligação de liberdade e autoridade.
Os texto aí destacados vão de encontro as respostas para a questão do amor, onde para o anarquismo: "Quanto mais criticamente a liberdade assuma o limite necessário tanto mais autoridade tem ela, eticamente falando, para continuar lutando em seu nome."
No caso específico, lutando em nome do amor.
Primeiro: quando me refiro a traição, ela vem carregada de todo aquele aparato hipócrita de, por exemplo, esconder, mentir, vingar, etc.
ResponderExcluirMas então, segundo Sartre, amar nos priva da condição de liberdade?
Será possível amar uma pessoa mesmo mantendo relação com outra?
Não.
ResponderExcluirAcho que é por isso que o amor não existe.
ResponderExcluirNa verdade acho que é até possível "amar uma pessoa mesmo mantendo relação com outra", ou temporariamente possível. Vejo que uma relação assim não se sustente, enquanto o traido não aceita tal atitude, ou até pode se sustentar, mas será baseada em dois fatores. O primeiro diz respeito a geração de mágoa, resentimento, tristeza para a pessoa traída e o segundo parte de uma atitude de mentir, esconder-se, como você citou, bem como, desconversar, iludir, encobrir, ações com o intuito de não apresentar a verdade para o outro.
ResponderExcluirA triste conclusão, que se traduz uma pergunta é a seguinte: tornar a pessoa amada um ser de pura tristeza ou mendir hipocritamente para ela é uma forma de amar?
Isso é amor?
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