sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Recompensas e Punições - Analisando Um Erro de Russell

“Nosso ato provém diretamente do desejo de atingir um determinado fim, não menos que do conhecimento dos meios necessários para tanto. Isso se aplica igualmente a todos os atos, sejam eles bons ou maus. Os fins diferem, e o conhecimento é mais adequando em alguns casos do que noutros. Entretanto, não há maneira concebível de levar as pessoas a fazerem coisas que não desejam. Possível é modificar seus desejos por meio de um sistema de recompensas e punições, entre as quais a aprovação e desaprovação social não sejam menos poderosas." (pg 53)

RUSSELL, Bertrand. No que acredito. L&M Pocket, Porto Alegre, RS: 2010.
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Transpondo esse ideal sistemático de recompensas e punições, para modificar nossos desejos, citado por Russell, ao sistema educacional, encontramos sua manifestação na escola tradicional do início do século XX, embasada pela nova ciência psicológica behaviorista (comportamento). Ou seja, o aluno recebia estímulos para realizar uma tarefa e ganhava recompensas se a executasse. Se houvesse erro, desobediência, ou qualquer ato inadequado, o aluno era punido até mudar sua conduta e não cometer o mesmo erro novamente. Daí que surge o massivo método de repetição usado até hoje, para fixação de condutas adequadas, de aprendizagem conteúdista. Essa questão nos remete ao condicionamento humano, (ver Skinner), por exemplo, o cachorro saliva quando está com fome, é dado um choque no animal, ele saliva e fica com fome. Ou seja, um comportamento gera uma resposta que gera uma conseqüência.  O estímulo não corresponde ao fim, seus desejos são condicionados. Outro grande exemplo vem da literatura, na obra “Laranja Mecânica” de Anthony Burgess (1962), em que o protagonista Alex, depois de tanto cometer atos maldosos, foi condicionado a não cometê-los novamente, toda vez que pensava em agredir, sentia-se enjoado e não realizava seus atos. Segundo Russell, é possível modificar os desejos através de um sistema de recompensas e punições. Carl Rogers faz uma crítica ao modelo psicológico de Skinner, para ele Skinner “privilegia conceitos como controle e previsibilidade, e dá pouco valor a conceitos como liberdade e realização pessoal. A abordagem de Rogers considera o modelo de educação e controle de comportamento de Skinner excessivamente mecanicista e determinista.”


Giorgia de Oliveira Moreira
@giorgiadoors
giorgiamoreira@hotmail.com

4 comentários:

  1. Fiz questão de imediatamente após essa postagem feita por nossa colaboradora Giorgia, remeter um comentário a respeito.
    São dois motivos que me levam a isso.

    O primeiro diz respeito a minha posição de admiração da filosofia e da literatura de Bertrand Russell.
    Quero deixar claro que não venho defender essa posição que ele apresentou no texto recortado, pois conforme o título, admitimos que trata-se de um erro. Mas para quem conhece sua obra sabe que ele, como um filósofo envolvido com questão práticas dos problemas de sua época, sempre discursou sobre os mais diversos assuntos; e desta forma, sem medo que errar, errou varias vezes, mas mesmo assim essas falhas não diminuem sua contribuição filosófica, e possivelmente até a aumentem.
    Para exemplificar sua filosofia, seu ceticismo com seguidor de Hume – no entanto aceitando a capacidade de uma intervenção social pelo pensamento racional – sua posição de pacifista ferrenho, gostaria de mostrar o Decálogo deixado por Russell em sua autobiografia como um "código de conduta" liberal:

    1.Não tenhas certeza absoluta de nada.
    2.Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.
    3.Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso.
    4.Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.
    5.Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.
    6.Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te.
    7.Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
    8.Encontres mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.
    9.Sê escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la.
    10.Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.

    Por esses preceitos vê-se que Russell sempre buscou o bem; e se errou foi guiado, como ele diversas vezes fez questão de dizer, pelo amor. Dirão que o inferno está cheio de boas intenções, mas esses que estão no inferno nunca buscaram uma atitude ética, conforme Russell sempre apresentou.

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  2. A partir daí chegamos ao segundo motivo por que escrevo.
    Mais uma vez utilizando as texto recortado de Russell vemos que conforme outro grande filosofo, o qual para muitos é considerado a maior mente humana já existente, Aristóteles, que para Dante era “o mestre dos que sabem”, também cometeu alguns erros em suas exposições, mas mesmo nesses casos, por trás do erro existia uma intuição fulgurante.
    Por exemplo, quando Aristóteles ao constatar intuitivamente que na natureza existe um grau de incerteza como parte indissolúvel dela; o pensador, por não possuir uma matemática que atendesse essa premissa, disse que para algumas partes incertas, a matemática não poderia ser aplicada. Ele estava errado, pois o que faltavam eram ferramentas matemáticas adequadas para tratar desses problemas. Essas ferramentas só apareceram com Leibniz e mesmo assim foram rejeitadas por quase toda comunidade científica até o início do século XX quando do aparecimento da mecânica quântica em oposição ao mecânica de Newton.
    No caso de Russell sua intuição se apresenta na seguinte frase: “Possível é modificar seus desejos por meio de um sistema de recompensas e punições, entre as quais a aprovação e desaprovação social não sejam menos poderosas.”
    Não que possa existir um meio, conforme apresentado, para modificar os desejos, mas ao tratar do caso de aprovação e desaprovação social, Russell entra no seio de um dos maiores problemas do anarquismo; pois, em uma sociedade onde teoricamente tudo é possível, não é tudo que é aceitável, portanto a desejada ausência de autoridade não acontece, na medida em que aparece uma autoridade que está escondida na aprovação moral social, ou seja, ou você faz o que é desejável ou começará a ser excluído. Essa discussão tragicamente remete a Religião Civil de Rousseau; não obstante se apresenta como um dos grandes problemas a serem resolvidos pelo Anarquismo, pensado no tratamento que deva ser dado aos preguiçosos e aos rebeldes. Seria ingenuidade pensar que mesmo que a educação atinja os objetivos desejados por nós, esses males seriam totalmente erradicados.

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  3. Muito obrigado!
    Fique a vontade para contribuir.

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