Assistir, discutir e estudar cinema a muito tempo são coisas que me dão extremo prazer. Ultimamente venho falando muito sobre filosofia, devido a meus estudos e a importância que a meu ver este assunto demanda. Para esta postagem tentarei unir as duas discussões, mas com uma inclinação a minha paixão supracitada, o cinema. É importante lembrar que a estética, o belo, as artes, são temas recorrentes na filosofia, portanto de certo modo, para um discurso correto e com propriedade, fica difícil falar de artes em geral sem falar ao mesmo tempo de filosofia. Não pretendo abordar com profundidade um tema que persigo com entusiasmo, que diz respeito a que tipo de cinema – ou como o cineasta e teórico Robert Bresson prefere chamar, cinematógrafo – é arte e não apenas uma representação comercial – o teatro fotografado de Bresson. Tratarei de uma nuance menos complexa, mas em contrapartida não menos importante.
Para isso tomemos o filme, diga-se de passagem, com grande apelo comercial, Cisne Negro (Black Swan) 2010 do ótimo cineasta America Darren Aronofsky, um dos melhores de sua geração. Este filme é exemplo de direção competente, uma verdadeira aula. Belíssimo em toda sua técnica e inovador em sua forma, mesmo se tratando de uma espécie de exacerbação do teatro fotografado de Bresson. Exatamente por assim o ser, exagerar – neste caso o exagero é bem vindo – em sua estética, é que a obra se torna tão única e provocadora.
Por outro lado a discussão e a controvérsia gerada por sua temática, seu roteiro, é digna de nota. Falo sobre a forma que foi apresentado ao público o trabalho dos bailarinos de primeira grandeza, talvez – não posso entrar no mérito da causa por puro desconhecimento – exagerando, desta vez, a dificuldade, o martírio e o pressão exercida sobre estes profissionais. Ouvi e ainda ouço inúmeros formadores de opinião e/ou repetidores delas, vistos em meu dia-a-dia ,contestando a forma que a arte da dança foi mostrada, forma que para estes distorce a realidade, portanto celebrando uma mentira.
Infelizmente meus caros, sinto dizer-lhes, estão todos equivocados . Parafraseando Schopenhauer, “os amantes e os românticos podem contestar minhas teorias, mas as suas criticas não procedem”. Neste caso o que não procede é o triste discurso do moralista de plantão – assim mesmo, com a utilização deste clichê. Até entendo as implicações éticas que qualquer obra artística deve considerar, mas no caso de Black Swan, não posso deixar de enaltecer o filme em prol de uma mera picuinha vinda de ignorantes, no que diz respeito a cultura cinematográfica. Essa briga é mais uma prova da necessidade de todas as pessoas em uma sociedade que se diga evoluída, democrática e participativa, obterem máximo de informação cultural, possível nas mais diversas áreas do conhecimento. Somente assim uma disputa retórica poderá ser nivelada e evoluir para um consenso. Se não for desta forma, ficaremos fadados ao mero discurso ideológico.
No caso do filme em questão é necessário dizer que sua representatividade como uma espécie de mini-vanguarda cinematográfica torna-se muito mais relevante que a controvérsia gerada por ele. Além disso, se não fosse por seu roteiro, em inteira concordância com a estética utilizada, a obra não seria tão grande, coesa e perfeita. Por fim, meu pedido, meu desejo, é que tornemo-nos mais sábios e isso implica não somente na obtenção do conhecimento, mas também na idéia lógica de que somente devemos utilizarmos o principio de contestação, de crítica, na medida que tenhamos plena ciência do que falamos, que estejamos convictos de nossa possibilidade de defesa. A possibilidade de defesa não quer dizer que vencermos o discurso previamente, mas que compreendemos o problema por completo, não somente no que diz respeito a nossa posição. Assim avançaremos em uma discussão onde certamente a verdade e o consenso surgiram.
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