terça-feira, 9 de novembro de 2010

Manifesto Contra a Democracia

Gostaria de abrir uma discussão a respeito de um dos tabus da sociedade atual, em especial da sociedade brasileira. Durante a última campanha eleitoral, vimos candidatos e até mesmo nosso presidente exaltar por diversas vezes nossa democracia. A frase “a democracia brasileira, uma das maiores do mundo” já se tornou um clichê de tão repetida, denotando algo indispensável em sociedades evoluídas. Mas lhes pergunto: o que é essa tal de democracia? Por que ela é tão necessária a nossa sobrevivência de tal forma a ter se tornado um dogma social, intocável e inquestionável?
A definição de democracia é a seguinte: um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos, ou seja, nas mãos do povo, direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos — forma mais usual. Nossa democracia, a brasileira, é essencialmente indireta, ou representativa, onde o povo expressa sua vontade através da eleição de representantes que tomam decisões em nome daqueles que os elegeram.
Apesar de não ser meu foco, quero também apresentar a definição de autocracia, a qual situa-se como a forma oposta de regime a democracia: é uma forma de governo na qual um único homem detém o poder supremo. Ele tem controle absoluto em todos os níveis de governo, sem o consentimento dos governados.

Mesmo que estas definições aparentemente mostrem que a democracia é a melhor escolha, vejo com certo temor essa “inquestionabilidade”, não só da democracia, mas de qualquer paradigma, seja social, cultural, científico ou de qualquer outra área do conhecimento que se possa imaginar.
A democracia é aceita como regime de governo em quase 100% dos países modernos, então por que isso estaria errado?
Em primeiro lugar entendo que a convicção é extremamente nociva a busca da verdade. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche dizia que a convicção é mais inimiga da verdade que a própria mentira. Posso fazer uma releitura dessa frase imaginando que a partir do momento que alcançamos a perfeição, deixamos de evoluir, mas quem define a perfeição? Quem disse que a democracia é a perfeição?
Immanuel Kant via com ressalvas a democracia. Mesmo que pareça incoerente, ele considerava a democracia déspota como essência. Dizia que se a democracia é um sistema onde a maioria decide, a partir do momento que um membro dessa sociedade destoasse da massa, da maioria, este estaria sofrendo de despotismo, pois teria que aceitar calado a decisão escolhido por critério de maioria. A de se concordar que no fundo ele tem razão. Mas Kant, infelizmente, achava preferível um regime autocrata onde o governante tomasse decisões pensando no bem comum de todos os seus governados.
Apesar de não aceitar a autocracia como forma de regime moderna, entendo a crítica de Kant a democracia, pois a escolha da maioria não significa que será uma escolha racional, e isso pode ser entendido analisando sociedades como a brasileira, onde o povo vive alienado por políticas neo-liberais, mascaradas pelo populismo desenfreado de líderes que se fossem substituídos pela sua oposição não sentiríamos a mínima diferença. Nossa sociedade vive subjugada a ideologia aos moldas da definição de Marx. Portanto fica claro que “o direito, não está nos números, mas na razão, e a justiça não está na contagem de cabeças, mas na liberdade do coração dos homens.”

Se aceitarmos que o anarquismo é a evolução das filosofias políticas, entenderemos o porque da democracia ser nociva. Na democracia prega-se a soberania do povo, no anarquismo prega-se a soberania do individuo. Ele, o anarquismo, rejeita instituições parlamentares aos moldes das democráticas, pois entende que o indivíduo abdicou de sua soberania, delegando-a a um representante, e ao fazê-lo, permitiu que fosse tomadas decisões em seu nome, sobre as quais não tem nenhum controle. A partir dessa afirmação podemos começar a notar em nosso meio, certa insatisfação com a democracia, pois vemos inúmeras reclamações sobre nossos representantes eleitos, mas por que na verdade não fazemos uma análise, questionando a própria forma escolhida como regime e não quem escolhemos como nossos porta-vozes. Será que não devemos ser porta-vozes de nós mesmos?

Com este texto não quero incitar nenhuma revolução, pois acredito não estarmos preparados para tanto e esse tipo de atitude a meu ver é ultrapassada, mas quero incitar o pensamento crítico, mesmo nos tabus mais concretos de nossa sociedade e vejo a democracia como tal.

5 comentários:

  1. Gostei da sua crítica a nossa forma de pensar e agir.

    Gostaria só de colocar também que, talvez:

    Se a democracia, fosse ainda democracia, mas o povo não fosse obrigado a votar. Se voto fosse uma coisa facultativa, vota apenas quem tem certeza de que quer votar, e em quem quer votar. Assim teríamos um pouco mais de chance de que só as pessoas que entendem de política votem.
    Ou se votos brancos e nulos também dissessem alguma coisa, por exemplo, se existir um numero aceitável de votos brancos e nulos é sinal de que os candidatos não valem um tustão e o povo quer novos candidatos.. E aí seria feito um segundo turno com outros candidatos. Assim, quem sabe, as pessoas tomariam vergonha na cara, e só se canditariam se realmente fossem a voz do povo, sabe?

    Eu não sei uma forma legal de fazer isso melhorar, mas com certeza, do jeito que está, não dá pra ficar!

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  2. Oi Luana, me permita entrar na discussão.
    O voto é a crítica principal no texto escrito, pois passa a responsabilidade para um terceiro, quando a responsabilidade deveria ser nossa. votar nulo, continua dentro do mesmo esquema, o que precisa mudar e nossa participação, e principalmente, como disse o texto, o nosso senso critico :D

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  3. Gostei muito do texto, concordo plenamente com as colocações, ideias e ideais.
    Também não vejo na democracia um "sistema perfeito", parafraseio Eduardo Galeano: "A liberdade de eleição permite que você escolha o molho com o qual será devorado."
    Defendo com convicção a anarquia, contudo, entretanto, porém...INfelizmente eu sei que a sociedade nao está preparada para tal. Concerteza precisaríamos de uma reforma total nos alicerces do sistema, na educação, e na formação política e social das pessoas. Vejo que hoje, elas estão acomodadas demais com tudo que acontece. Eu faço parte do Centro Academico de Design da facudade, do Centro de Mídia INdependente de JOinville e também participo da lista de discussão do MPL, fico REVOLTADA com o desdém e desinteresse dos jovens para com esses movimentos e ações. Sem contar que o movimento estudantil MORREU, ou que (para não ser tao pessimista) está em coma. São poucos os que ainda acreditam e que participam. Gostaria que as pessoas se interessassem mais, que abraçassem a causa, que vissem qual são as proporções de tudo isso.
    Elas ainda nao se deram conta que quem manda, somos nós (se quisermos) e se fizermos com sensatez.
    BOm... acho que me empolguei... até falaria mais um monte de coisas, mas fica pra outra hora!


    "Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar.Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é a nossa vida."
    Clube da Luta

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  4. A Democracia, vamos dizer a democracia brasileira. A democracia brasileira não deve ser eliminada, ela deve ser limpa.

    Abraços.

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  5. Caro William, quem bom que leu este texto.
    Queria te passar outra opinião no que diz respeito a filosofias políticas, sem desmerecer suas convicções, é claro!
    Na verdade, como já havia exposto, minha idéia passa longe na sua, em especial no que diz respeito a manutenção do estado.
    No caso, como anarquista, proponho depor o estado, portanto uma democracia representativa torna-se obsoleta. Temos como ideal o que poderíamos chamar de democracia direta, a qual está demonstrada na utilização de um Federalismo Libertário, em oposição ao Centralismo, comum em filosofias políticas Socialistas e Comunistas. Esta forma de federalismo, bem diferente da utilizada hoje no Brasil, “consiste na subdivisão organizacional [...] da sociedade libertária (que se organizaria de baixo para cima) – em grupos de associações, comunas, ou cooperativas que se juntariam em federações, e daí em confederações, e qualquer outra forma de conjugação da força operacional humana – para a maior eficiência das interações humanas, sociais. Por intermédio do federalismo, de cunho libertário, seria possível uma intervenção rápida e direta do homem frente às problemáticas emergentes na sociedade anarquista.”
    Apresento isso a você para mostrar minha preocupação com ausência de debates no que diz respeito a teorias anarquista de organização política, as quais podem ainda ser muito úteis a sociedade; mas hoje são tidas, pelo senso comum, como utópicas e sem sentido prático.

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